quinta-feira, 25 de junho de 2009

Illustrator X CorelDraw - O retorno

Há um tempo eu escrevi um post sobre a disputa entre os dois mais famosos programas vetoriais do mercado: Corel Draw e o Adobe Illustrator. Minha intenção era fazer dois posts, um falando sobre a disputa e outro pra explicar realmente o que gerou essa briga entre os usuários dos dois programas. Demorei muito em escrever o segundo post mas agora vai.

A maioria das pessoas que defende essa disputa, hora puxando a sardinha pra Adobe hora pra Corel, realmente não sabe por que faz isso. O tema já virou um slogan totêmico (um clichê), repetido e repetido como verdade, mas sem muita base. Pouca gente sabe que origem real dessa disputa começou em outro nível, no nível dos sistemas operacionais.

O Corel Draw é o programa vetorial da plataforma Windows. A programação do soft é feita para rodar somente no Windows; uma versão do Corel Draw até foi feita para a plataforma Mac mas não teve muito sucesso e o projeto foi encerrado. Já o Illustrator passeia livremente pelos dois sistemas operacionais sem grandes problemas, apesar de que muita gente concorda que ele se dá melhor no sistema da Apple. Foi a partir daí que a disputa ente os dois softs começou.

Desde o princípio, Apple e Windows mostraram claramente o nicho comercial de cada um. A diferença das interfaces dos dois sistemas sempre foi o maior referencial dessas escolhas mercadológicas. No livro “Cultura da Interface”, Steven Johnson descreve como foram as primeiras análises sobre a metáfora do desktop do Mac e do Lisa – os dois modelos da Apple que vieram com a interface de janelas e o com o mouse. “Algumas das análises da interface gráfica batiam na ridícula tecla do homem-que-é-homem-não-faz-janelinha, que reverberou pelo mundo empresarial norte-americano na década de 1980, como neste blábláblá tomado da revista Creative Computing: 'ícones e um mouse não vão fazer ninguém deixar de ser analfabeto. Apontar para figuras não leva muito longe. Mais cedo ou mais tarde você tem que parar de apontar e selecionar, e começar a pensar e a digitar'”.

Pra nós essa análise parece uma coisa ridícula, como assim o mouse não é útil? Como assim janelas não são boas? Mas pra época essas questões eram bem relevantes. Johnson continua, “Outras análises erravam o alvo por completo, descartando o Mac como uma ferramenta que só teria utilidade para artistas e programadores visuais, como se a principal inovação da máquina fosse a lata de spray do MacPaint e não a própria interface.” Outro trecho de uma publicação da época falando sobre o Mac, mas precisamente sobre o MacPaint e MacWrite, “ambos são controlados pelo 'mouse' da máquina, que move o cursor sem que o usuário toque no teclado. Tamanha simplicidade não é o que almejam as grandes empresas. O executivo médio tem pouca necessidade dessa habilidade gráfica do MacPaint. A maioria deles já tem que penar o suficiente para escrever relatórios, sem ter de se preocupar também com a apresentação gráfica deles.” Essas diferenças entre os sistemas operacionais criaram dois tipos de usuários bem diferentes conforme classificou Johnson “Os PCs, com seus códigos misteriosos e seus medonhos monitores verde-sobre-preto, pertenciam aos ternos, ao Homem da Empresa. A bem-humorada interface do Mac falava para uma gente diferente: tipos mais joviais, criativos, novos pensadores e iconoclastas. Comprar um Mac era uma expressão de identidade visual, como para Steven Jobs usar camiseta em reuniões do conselho diretor. O computador que você usava revelava sua personalidade.”

Esses estereótipos se tornaram tão fortes que começaram a contaminar outros níveis, como no caso dos programas vetoriais. As pessoas começaram a confundir as coisas. Como não há uma versão de Corel Draw para Mac, o argumento de que o usuário do Mac é mais criativo acabou também determinando que o usuário do Corel Draw é menos criativo, pois usa o Windowns. Hoje em dia, esse tipo de argumento não se sustenta mais, o que determina a criatividade de um profissional é o seu repertório e habilidade. Por isso, estude sempre e, se sobrar um tempinho, estude um pouco mais.